21 jan 2021
Vantagens e Desvantagens

BY: Mônica Girão

Depressão / Psicologia / Saúde Mental / Tratamento

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Por: Mônica Girão

O teletrabalho tem sido visto como uma forma de aumentar a eficiência organizacional e também a satisfação dos empregados, considerando que a flexibilização do trabalho parece ser o anseio de grande parte dos trabalhadores modernos, principalmente no que diz respeito à administração do tempo, recurso cada vez mais escasso, como mostra Kedouk (2012, p.55):em reportagem para a revista Você s/a:

As 150 melhores empresas nunca investiram tanto em políticas de flexibilidade. Entrar mais trade, sair mais cedo e até trocar a mesa do escritório pela varanda de frente para o mar virou o benefício da vez para quem busca atrair, reter e engajar profissionais. Trabalho sem Fronteiras do Guia 2012 da Revista Você S.A. – As melhores empresas para se trabalhar.

Segundo Robbins (2010), os gestores devem se interessar pelas atitudes de seus funcionários, pois elas sinalizam potenciais problemas e influenciam comportamentos. Funcionários satisfeitos e comprometidos, por exemplo, têm menores taxas de rotatividade, absenteísmo e comportamentos desviantes. Eles também têm melhores desempenhos. Por terem o objetivo de manter demissões e faltas em níveis baixos – principalmente entre seus funcionários mais produtivos – os gerentes devem tomar iniciativas que gerem atitudes positivas. Diante disso, o teletrabalho parece uma solução adequada para atender a maioria dessas demandas.

Outro aspecto que se leva em consideração quando se busca a mudança das formas tradicionais para se adotar o teletrabalho, diz respeito à qualidade de vida do trabalhador (QVT). Para Rafael (2010), a importância da QVT baseia-se em pesquisas que mostram que esta pode ter um impacto significativo nos comportamentos, na identificação com a organização, na satisfação profissional, no empenho organizacional, no esforço no trabalho, no desempenho no trabalho, e na intenção de se manter no emprego. A literatura sobre saúde e bem-estar no trabalho evidencia as consequências de baixos níveis de saúde e bem-estar; nessas consequências, incluem-se o absenteísmo, a baixa produtividade e eficiência, redução na qualidade dos produtos e serviços, elevadas compensações por indenizações, custos acrescidos em gastos de saúde e despesas médicas diretas.

Conforme a Carta Europeia para o Teletrabalho, este é visto como algo positivo, como é possível verificar abaixo:

é um novo modo de organização e gestão do trabalho, que tem o potencial de contribuir significativamente à melhora da qualidade de vida, a práticas de trabalho sustentável e à igualdade de participação por parte dos cidadãos de todos os níveis, sendo tal atividade um componente chave da Sociedade da Informação, que pode afetar e beneficiar a um amplo conjunto de atividades econômicas, grandes organizações, pequenas e médias empresas, microempresas e autônomos, como também a operação e prestação de serviços públicos e a efetividade do processo político. (apud ESTRADA, 2012)

Isso nos faz pensar que o teletrabalho pode ser um importante fator para proporcionar qualidade de vida ao teletrabalhador.

Segundo Chiavenato (2004) a qualidade de vida no trabalho representa a capacidade de satisfazer as suas necessidades pessoais com sua atividade na organização, por parte dos colaboradores. Não somente as condições físicas de trabalho importam, mais também as condições sociais e psicológicas são fundamentais para QVT. As organizações podem aumentar a satisfação profissional dos indivíduos no seu trabalho criando um ambiente descontraído, eliminando a rotina e monotonia, oferecendo salários justos, políticas de benefícios e oportunidades de promoções, desenhando cargos desafiadores e satisfatórios, tornando as pessoas mais responsáveis e proporcionando maior variedade, autonomia e retroação.

O teletrabalho aparece, portanto, como muito positivo para o teletrabalhador e, consequentemente para a empresa, mas é preciso analisar cuidadosamente a sua adoção, visto que ainda não é possível identificar a medida exata das suas consequências visto ser um fenômeno novo no mundo do trabalho.

Sabe-se que a quebra de velhos paradigmas, de modo geral, provoca a resistência das pessoas, visto que isso exige mudanças e adaptações por parte destas. Ao mesmo tempo, quando se fala em novos desafios, inovações tecnológicas e avanços, há também a tendência de se apresentar um discurso de aceitação muitas vezes apenas para parecer moderno e atual.

Baseados no artigo A intranet e as Pessoas Deficientes na Empresa e também em Quintal (2001/2002) será apresentada abaixo uma análise detalhada de vantagens e desvantagens do teletrabalho para o teletrabalhador, para a empresa e para a sociedade que nos dá um panorama mais equilibrado dessa nova maneira de se trabalhar.

Vantagens

Para o teletrabalhador

  • Estimula a autonomia na organização do seu trabalho e diminui o absentismo na execução de tarefas;
  • Trabalha de acordo com o seu biorritmo, segundo métodos e preferências pessoais, tornado assim mais fácil o alcance de objetivos pessoais e organizacionais.
  • Reduz o tempo despendido no deslocamento da sua residência até ao local de trabalho – O teletrabalhador executando suas atividades de casa ou em telecentros próximos a ela diminui o número de deslocamento entre a sua casa e o seu emprego. Como consequência, diminui o estresse provocado pelas frequentes “viagens” diárias. O tempo economizado pode ser aplicado em outras tarefas profissionais ou em tarefas domésticas ou simplesmente aumentar o tempo de lazer.
  • Reduz as despesas com transportes públicos ou particulares e também com vestuário e refeições;
  • Proporciona maior convivência com a família, devido à maior disponibilidade de tempo, pois o teletrabalhador que trabalha em casa, pode conciliar de forma mais harmoniosa a vida profissional e familiar, tendo mais tempo para o lazer e a família, ajudando aos membros da família – crianças, idosos ou doentes – sem ter a necessidade de se ausentar do seu trabalho.
  • Melhora a qualidade de vida pela flexibilização do horário de trabalho, podendo equilibrar as suas necessidades e as necessidades da empresa e ainda as solicitações da família.
  • Possibilita o aumento dos rendimentos mensais, pois pode trabalhar para mais de uma empresa, considerando a administração do seu tempo.

Para as empresas

  • Reduz custos pois o funcionamento de uma empresa depende de espaço físico, equipamento, mobiliário, materiais, etc. como também podem gerar a diminuição de pessoal visto que aumenta a produtividade necessitando de menos gente no processo produtivo;
  • Aumento da produtividade como consequência da diminuição de situações de stress relacionada com os deslocamentos diários e com as pressões cotidianas do local de trabalho; tudo isso favorece uma maior satisfação do trabalhador o que contribui para a maior produtividade e a diminuição do absenteísmo e rotatividade;
  • Facilita o recrutamento de pessoal (independentemente do seu local de residência), pois como o mercado de teletrabalho funciona sem barreiras geográficas, facilita às empresas encontrar a pessoa com o perfil mais adequado a determinados postos de trabalho, sem a necessidade de deslocar pessoas qualificadas de uma região para outra.  

Para a sociedade

  • “Desconcentração” do centro das cidades pois proporciona melhor distribuição demográfica visto que não há necessidade de se morar “perto” das zonas produtivas.
  • Criação de empregos considerando que o meio e o ambiente tecnológico que o teletrabalhador utiliza é bastante flexível e absorve mais pessoas.
  • Aumento da produtividade – Diversos estudos indicam que o teletrabalho possibilita o aumento da produtividade em valores percentuais significativos.
  • Economia em combustíveis e consequente redução da poluição e de congestionamento do tráfego urbano, visto que não há necessidade de deslocamento ou o deslocamento pode ser menor;  
  • Inclusão no mercado de trabalho de pessoas com necessidade especiais ou de idosos, donas de casa, aposentados, pessoas que cuidam de familiares com necessidades de apoio, etc. Deste modo poderá aumentar a satisfação pessoal e profissional destes grupos especiais e também poderão diminuir os encargos sociais correspondentes. 

Desvantagens

Para o trabalhador

  • Isolamento social, pois quando o trabalho é feito em casa em tempo integral as pessoas reduzem os contatos com os colegas de trabalho e a hierarquia –o trabalho é uma importante fonte de socialização e convívio;
  • Déficit de proteção jurídica visto que ainda é uma modalidade nova e assim deixa “brechas” em relação ao controle da produção do trabalho; 
  • Possibilidade de condições de emprego menos favoráveis, em termos de vantagens econômico-sociais; 
  • Degradação da vida familiar devido à intrusão do trabalho no dia a dia da casa das pessoas;
  • Menos oportunidade de promoção pelo pouco contato com chefias e diminuição da visibilidade do teletrabalhador.

Para as empresas

  • Menor controle sobre as atividades e resultados do trabalho pois normalmente os gestores avaliam o desempenho dos seus trabalhadores pela presença física e pelo cumprimento de horários de trabalho. Não estando o teletrabalhador presente com regularidade nos escritórios da empresa, o gestor “perde” esses dados objetivos de avaliação. Dessa forma a Avaliação de Desempenho pode ficar prejudicada.
  •  Possíveis gastos com cursos de qualificação em informática para os teletrabalhadores visto que a atividade requer domínio na área da informática e isso pode gerar prejuízos, como atrasos no prazo de entrega; 
  • Prejuízos e mesmo destruição da unidade da empresa e do coletivo de trabalho visto que teletrabalhadores remotos, dispersos geograficamente e com laços enfraquecidos pelos meios de comunicação que utilizam e pela raridade de contatos face a face, dificulta e prejudica o desenvolvimento de uma cultura empresarial forte e coesa. Isto pode implicar no enfraquecimento do nível de lealdade para com a empresa, assim como comprometer os níveis de motivação e produtividade dos teletrabalhadores. O teletrabalho permite o multi-emprego, cria as condições para que um profissional ofereça o seu trabalho a outros empregadores e trabalhe para outras empresas para além daquela para a qual foi estabelecida a situação de teletrabalho, facilitando trabalhos temporários ou ocasionais que podem ser prejudiciais à empresa empregadora, quer por quebra de produtividade quer por quebra de sigilo ou confidencialidade.
  •  Riscos de segurança e confidencialidade da informação 
    visto que o resultado ou produto do teletrabalho é, no todo ou na parte, “transportado” por meios de telecomunicações e esse sistema é vulnerável e pode facilitar perda de informação ou mesmo a atuação de hackers que podem prejudicar a empresa e mesmo seus clientes. Dois grandes grupos de utilizadores são considerados críticos: os teletrabalhadores móveis (por exemplo, gestores que transportam material confidencial – relatórios, propostas de concursos, etc.) em computadores portáteis e os teletrabalhadores que a partir de casa ou de telecentros podem acessar arquivos reservados (contendo material confidencial ou mesmo estratégico). Estes dois grupos de utilizadores frequentemente colocam no equipamento, utilizado (computadores portáteis ou computadores pessoais em casa ou em telecentro), bases de dados ou arquivos ou ainda as senhas e login de acesso aos sistemas centrais da empresa o que, por perda, roubo ou acesso não autorizado, pode facilitar um acesso mal intencionado aos sistemas de informação da empresa.

Para a sociedade

  • Efeitos negativos na integração social do trabalhador na comunidade; 
  • Exploração de trabalhadores em situação mais vulnerável; 
  • Transferência, para as zonas menos desenvolvidas, apenas de empregos pouco qualificados e mal pagos visto que a possibilidade de recrutar mão de obra mais barata em mercados estrangeiros assim como o incremento da produtividade pela compensação dos fusos horários, leva a que os mercados de emprego se revelem instáveis e vulneráveis à concorrência desleal.
  • Alterações das estruturas tradicionais de educação e formação profissional;
  • Impacto no mercado imobiliário visto que o deslocamento do trabalho para fora das empresas reduz a necessidade de espaço e desestimula a construção civil o mercado de aluguéis, até porque esse mercado pratica preços mais altos que o mercado de espaços residenciais;
  • Vulnerabilidade face à competição de potencial trabalho e mão de obra estrangeira;
  • Exclusão digital, pois ainda existem barreiras psicológicas de muitos indivíduos no domínio das tecnologias da informação que impossibilitam o acesso a esse tipo de trabalho. Aqueles que não conseguem acompanhar o desenvolvimento da sociedade de informação acarretam custos sociais e balizam o desenvolvimento econômico da comunidade em questão.

A análise de vantagens e desvantagens para esses três segmentos faz pensar que essa nova forma de trabalho traz importantes contribuições para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador, desde que as desvantagens sejam devidamente administradas.

Nesse contexto, o psicólogo organizacional e do trabalho tem importante papel no sentido de analisar cargos e organizações buscando identificar setores ou postos de trabalho que se adéquam mais ao teletrabalho, facilitando assim a vida de muitas pessoas. Dentro dessa análise, é possível verificar também os cargos que podem absorver pessoas com deficiência, idosos e outras categorias menos favorecidas que hoje se encontram fora do mercado trabalho tradicional.

            Por outro lado, o psicólogo também pode atuar na administração das desvantagens, estudando formas, por exemplo, de minimizar as perdas sociais a partir de arranjos profissionais que mesclem o teletrabalho com o trabalho presencial, estabelecimento de avaliações de desempenho que priorizem resultados e que dependam cada vez menos do contato chefe-subordinado.

            Verifica-se também que este profissional pode atuar auxiliando as pessoas a enfrentarem as suas resistências, naturais nesses processos de mudança, ainda que essas mudanças lhes sejam favoráveis.

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